Clima adverso, oscilações de mercado e impactos biológicos são motivos de preocupação para os produtores de soja em diversas partes do mundo, não apenas no Brasil. Na Geórgia, o norte-americano Alex Harrell se destacou ao conseguir driblar as dificuldades desses cenários. Em 2023, ele alcançou uma produtividade de 231,8 sacas por hectare e, em 2024, conseguiu bater o seu próprio recorde com a marca de 244,67 sacas por hectare. O “segredo” para esse resultado está na rigorosa estratégia adotada pelo produtor, que está focada no alto desempenho.
O brasileiro Marcos Loman, que é PhD em Agronomia e parte da equipe norte-americana da BRANDT Discovery and Innovation – empresa de inovação tecnológica focada em fisiologia vegetal, biossoluções e tecnologia de aplicação –, explica que o recordista “produziu um número excepcionalmente alto de vagens e grãos por metro quadrado, o que definiu um alto potencial produtivo.”
Loman, no entanto, enfatiza que “na fisiologia das plantas, um grande número de grãos geralmente tem uma correlação negativa com o peso dos grãos, pois eles competem por recursos oriundos da fotossíntese. Com o aumento do número de grãos, o peso médio tende a diminuir, o que significa que um maior número de grãos nem sempre se traduz em maior produtividade final.”
O “segredo” do recordista, segundo o especialista, foi conseguir reverter essa correlação negativa ao aumentar a capacidade fotossintética das plantas, que é a habilidade de converter a luz solar em energia química, resultando em um aumento de fotoassimilados disponíveis para serem distribuídos entre o maior número de grãos presentes em suas plantas de soja. “Ele utilizou drones para fazer aplicações quase semanais de fungicidas, junto com nossos produtos nutricionais, o que aumentou a duração da área foliar e potencializou o enchimento de grãos”, detalha Loman.
É possível ter recordes de produtividade como esse no Brasil?
Sim, é possível! Contudo, Hugo Rosa, Gerente de Produtos de Nutrição da BRANDT Brasil, reforça dois pontos que necessitam da atenção do produtor: o manejo nutricional e a saúde do solo.
Com relação ao manejo, Rosa pontua que enquanto muitos produtores no Brasil se limitam a um ou dois manejos nutricionais na soja ao longo de todo ciclo, Alex Harrell adota uma nutrição contínua – e este é o grande diferencial da estratégia do recordista. “É esse padrão de aplicações de nutrientes isolados, o qual vemos muito nas lavouras brasileiras, que precisamos transformar se queremos alcançar números como os de Alex por aqui”, explica.
Segundo o especialista, também é importante considerar que durante o processo de enchimento dos grãos, existem padrões relacionados à fisiologia de nutrientes específicos, como o magnésio, o boro e o potássio, os quais podem somar – e muito – nesta etapa de desenvolvimento. “O magnésio é essencial para a produção e movimentação do açúcar na planta, pois participa de diferentes processos e estruturas que atuam nesse transporte. O boro é fundamental na formação de sacarose, um açúcar estável e com estrutura relativamente simples, o que permite que ele seja facilmente transportável pelas plantas, sendo crucial para o processo de enchimento dos grãos. Por fim, o potássio atua na regulação da pressão osmótica do floema, aumentando a fluidez e a velocidade do transporte de açúcares, o que contribui significativamente para o peso final dos grãos.”
Outra diferença, ressaltada por Rosa, e que precisa ser considerada quando as lavouras brasileiras e a de Harrell são colocadas lado a lado, é a diferença entre os solos. “Os solos do Brasil e dos Estados Unidos possuem diferenças. Enquanto os produtores norte-americanos da região de Harrell possuem um sistema de manejo focado na conservação da fertilidade natural do solo e na eficiência do uso de fertilizantes, por aqui nós precisamos investir em uma constante correção e suplementação de nosso solo, com práticas como: rotação de culturas, adubação verde, aumento de matéria orgânica e de produtos biológicos específicos para o solo”, explica.
A chave para o sucesso do recordista chegar também ao solo brasileiro, na visão do especialista, está no manejo bem planejado, com os nutrientes e recursos específicos para cada fase de desenvolvimento da cultura: do pré-plantio à dessecação. “Nutrir a cultura como um todo, dando-a o que ela precisa ao longo de todo ciclo, é diferente de aplicar apenas um nutriente. Se o produtor tem um solo com as características físicas, químicas e biológicas favoráveis ao desenvolvimento da cultura e, além disso, faz o uso de tecnologias de suplementação via folha ao longo de todo ciclo, o resultado será o atingimento do máximo potencial produtivo da cultura”, conclui, atribuindo o sucesso de Harrell ao planejamento e ao uso de tecnologias que maximizam a ação dos nutrientes.
Fonte: Gabriela Salazar
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