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Nutrição como aliada da piscicultura sustentável

Camila Santos, de São Paulo (SP)





A relação entre a nutrição e a emissão de gases de efeito estufa (GEE) na piscicultura intensiva, com destaque para o óxido nitroso (N₂O), foi tema de palestra no V Workshop CBNA sobre Nutrição em Aquacultura. A apresentação foi conduzida pela pesquisadora da Embrapa Dourados, Tarcila Souza de Castro Silva, que abordou os impactos da formulação e manejo alimentar na geração desse gás. Considerado até 280 vezes mais poluente que o dióxido de carbono (CO₂), o N₂O é resultado de processos de nitrificação e desnitrificação em ambientes com acúmulo de matéria orgânica e baixos níveis de oxigênio — condições comuns em sistemas de produção sem manejo adequado dos resíduos.





Segundo Tarcila, a compreensão dos processos químicos que envolvem a transformação dos compostos nitrogenados é fundamental para identificar pontos críticos na produção aquícola. Ambientes com alta densidade de cultivo e sem controle dos resíduos tendem a favorecer a liberação do N₂O, agravando o impacto ambiental. “É preciso entender como as proteínas, carboidratos e lipídios se decompõem em ambientes anaeróbicos e como isso se conecta à formação dos gases”, explica. A pesquisadora destaca ainda a importância do controle da matéria orgânica presente nos sedimentos, que atua como base para reações indesejadas de fermentação.





A formulação da dieta aparece como um dos principais fatores de influência. Ao atender às exigências nutricionais com ingredientes digestíveis e balanceados, é possível reduzir a excreção de nutrientes não aproveitados, diminuindo a carga orgânica nos viveiros. O uso de aditivos também foi citado como ferramenta para otimizar o aproveitamento da ração e promover um ambiente mais limpo. “A eficiência alimentar não só melhora o desempenho do peixe como reduz diretamente a matéria orgânica residual, interferindo na dinâmica dos gases”, aponta.





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Tarcila Souza de Castro Silva é pesquisadora da Embrapa Dourados (Foto: FeedFood)




Além do aspecto nutricional, o processamento da ração também interfere na pegada ambiental da piscicultura. Métodos como extrusão e peletização apresentam diferenças na utilização de energia e na digestibilidade dos ingredientes, o que impacta a emissão indireta de GEE. Tarcila apresentou exemplos comparativos, evidenciando como mudanças na composição e na forma de processamento afetam os índices de emissão, inclusive entre países, como no caso de uma mesma formulação avaliada no Brasil, China e Estados Unidos, com resultados ambientais distintos.





Por fim, a pesquisadora enfatizou a importância de incorporar ferramentas como a Análise do Ciclo de Vida (ACV) para mensurar a pegada de carbono da produção aquícola, desde os insumos até o processamento final da ração. “Só com dados consolidados é possível acessar mercados mais exigentes, buscar certificações e até gerar créditos de carbono. A sustentabilidade da piscicultura começa na ração, mas envolve toda a cadeia produtiva”, conclui Tarcila.





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