Por Argemiro Luís Brum
As cotações do trigo, em Chicago, recuaram um pouco nesta semana, com o bushel fechando a quinta-feira (31) em US$ 5,70, contra US$ 5,81 uma semana antes. No ano passado, nesta mesma época, o bushel do cereal valia US$ 5,56.
Dito isso, o plantio do trigo de inverno, nos EUA, atingia a 80% da área esperada no dia 27/10, contra 84% na média histórica. Já 56% da área semeada apresentava trigo germinado, contra 61% na média histórica para esta data. Por outro lado, as condições das lavouras plantadas apresentavam-se com apenas 38% entre boas a excelentes, 39% regulares e 23% entre ruins a muito ruins.
Efetivamente, a safra de trigo de inverno nos EUA está em situação muito ruim, surpreendendo os técnicos. A seca vem causando prejuízos importantes nas regiões produtoras daquele país, embora haja chuvas previstas para a virada do mês. A classificação das lavouras é a segunda pior para a semana em 39 anos de registros.
Na semana passada, cerca de 58% das áreas de trigo de inverno dos EUA estavam passando por seca, a maior parcela desde o início de 2023. A última boa colheita por lá foi em 2016, com um rendimento recorde de 62 sacos/ha. Desde então, os resultados mais próximos foram 60 sacos em 2019, seguidos por 57,9 sacos em 2024.
Já os embarques estadunidenses de trigo registraram 248.534 toneladas na semana que se encerrou em 24/10. No acumulado do ano comercial, o volume soma 9,5 milhões de toneladas exportadas, contra 7,1 milhões na mesma época do ano anterior.
Por outro lado, na Argentina, as exportações de trigo podem chegar a 13,3 milhões de toneladas em 2024/25, sendo o segundo maior volume exportado na história do país. Espera-se uma colheita de 19,5 milhões de toneladas de trigo no vizinho país (cf. Bolsa de Cereais de Rosário).
E na Rússia os preços de exportação do trigo pararam de subir. O preço do poduto, com 12,5% de proteína, com entrega FOB programada para novembro, era de US$ 232,00/tonelada no final da semana passada, registrando uma queda de US$ 2,00. A consultoria Sovecon “elevou sua estimativa de exportação de outubro para um potencial novo recorde de 5 milhões de toneladas, em comparação com 4,7 milhões de toneladas há um ano, que é o maior volume registrado atualmente”. Até o dia 18/10, os russos haviam colhido 83,1 milhões de toneladas de trigo, contra 92,8 milhões no ano anterior (cf. Reuters).
E no Brasil, os preços se mantêm com viés de alta, para o produto de qualidade superior, ficando em R$ 68,00/saco no Rio Grande do Sul e entre R$ 77,00 e R$ 79,00/saco no Paraná, os dois principais estados produtores do país. Registre-se também forte alta dos preços em São Paulo, onde a colheita está praticamente concluída e a quebra de safra se cristalizou. Um ano atrás, a média gaúcha era de R$ 49,64/saco, com as principais praças do estado praticando entre R$ 48,00 e R$ 50,00/saco. Já no Paraná, o preço era de R$ 54,00/saco junto às principais praças daquele estado. Ou seja, em 12 meses o preço do trigo superior, no Rio Grande do Sul, subiu 37%, enquanto no Paraná a alta está entre 42% e 47%, dependendo do local.
Atualmente, no Paraná, a colheita atingia a 91% da área, havendo ainda 14% do que restava a colher em condições ruins. Já no Rio Grande do Sul a colheita chegava a 29% da área no dia 24/10, contra a média de 31% para o período.
De fato, a quebra da atual safra brasileira vai se confirmando. Em relação ao esperado inicialmente a mesma poderá chegar a algo entre 20% e 25%, com o volume final ficando ao redor de 7,5 milhões de toneladas. No ano passado o país colheu 8,1 milhões de toneladas. Além disso, há o problema da baixa qualidade do produto, em boa parte não alcançando o PH 78, considerado o ideal, e tampouco o Falling Number adequado como já destacado em nosso comentário anterior. Com isso, as importações do cereal, por parte do Brasil, deverão aumentar em 2025. O volume deverá girar entre 5 e 6 milhões de toneladas.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).
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